Manifestantes do movimento Levante Popular da Juventude protestam em frente à casa de Carlos Alberto Ponzi, ex-chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), em Porto Alegre (RS)
O movimento Levante Popular da Juventude realizou manifestações em frente a residências e uma empresa de propriedade de pessoas suspeitas de tortura durante a ditadura militar, na manhã desta segunda-feira nas cidades de Porto Alegre, Belo Horizonte e São Paulo.
"Foram organizadas ações no País inteiro de denúncia de torturadores pela Comissão da Verdade", disse a integrante do movimento em São Paulo Lira Alli. A comissão foi criada pelo governo federal no final do ano passado para investigar os crimes cometidos durante o período militar, mas ainda não foi instaurada.
Na zona sul de São Paulo, os manifestantes se reuniram em frente a empresa de segurança privada de propriedade de David dos Santos Araújo, conhecido como Capitão Lisboa, para denunciar sua suposta participação em crimes de tortura, assassinato e a abuso sexual durante o regime militar, conforme diz o movimento citando ação civil pública do Ministério Público Federal.
"A ideia não era uma ação de enfrentamento, mas denunciar que a pessoa que vive lá cometeu esses crimes e vive normalmente como se nada tivesse acontecido", explica Lira. Além da manifestação em frente à empresa, um grupo ficou responsável por conversar com moradores do quarteirão onde fica a empresa para falar sobre os crimes dos quais Araújo é acusado.
Em Belo Horizonte os manifestantes se reuniram em frente à casa de Ariovaldo da Hora e Silva, no bairro da Graça, com faixas, cartazes e tambores, e distribuíram cópias de documentos do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) - responsável por controlar e reprimir movimentos políticos contrários ao regime -, com relatos de tortura, dos quais teria participado Ariovaldo.
O movimento divulgou ainda, no Facebook, fotos de um ato realizado em Porto Alegre (RS) em frente à casa do coronel Carlos Alberto Ponzi, ex-chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), também acusado de tortura pelo movimento. Os manifestantes picharam muros e calçadas dizendo que ali vive um torturador.
Segundo Lira, os atos foram inspirados em ações realizadas em diversos países da América Latina, chamadas de escracho, na Argentina, contra a impunidade de pessoas envolvidas com crimes durante a ditadura. "Sabemos que tem o manifesto dos militares da reserva que são contra a criação da Comissão da Verdade e existe um certo tensionamento de setores da sociedade, justamente os envolvidos com torturas e assassinatos que não querem que a comissão da verdade aconteça. E achamos que a juventude tem que se mobilizar a favor", diz.
Ninguém foi encontrado na empresa de segurança de propriedade de David dos Santos Araújo para comentar sobre a manifestação. Ariovaldo da Hora e Silva e Carlos Alberto Ponzi também não foram localizados.